segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Volver(Espanha, 2006)
Quando o personagem de Gael García Bernal em Má Educação adentra o escritório do cineasta Enrique Goded, lá está o pôster de um filme fictício, La Abuela Fantasma. Era a pista que Almodóvar dava para esse seu novo trabalho, Volver, onde relata entre outras coisas a volta de uma mãe do mundo dos mortos para resolver assuntos pendentes junto das filhas.
O título Volver, que não ganhou tradução para o português, significa muitas coisas. É a retomada do diretor às suas raízes, os melodramas femininos. Praticamente, não há personagens homens, e sim diversas mulheres que travam seus conflitos. Sole (Lola Dueñas) é a irmã de Raimunda (Penélope Cruz) que por sua vez é mãe de Paula (Yohana Cobo), neta de Irene (Carmen Maura), a avó fantasma a que o filme anterior faz referência.
É incrível como Penélope Cruz funciona nas mãos do diretor, é seu terceiro trabalho junto de Almodóvar e, provavelmente, o mais significativo de todos eles. O espanhol dirige atrizes como ninguém. Cruz é Raimunda, personagem inspirada nas mamas do neo-realismo italiano, uma homenagem do diretor às divas de Rosselini, como Ana Magnani. Raimunda tem uma força extraordinária, mas ao mesmo tempo é de uma tremenda sensibilidade.
Almodóvar continua o mesmo dos tons vermelhos, conseguindo o que poucos diretores conseguem, realizar uma obra prima após a outra. Em Volver, ele segue explorando sua faceta mais madura, assumindo que, sim, tornou-se um diretor sério, ainda que mantenha os elementos cômicos que o caracterizam desde o início de sua carreira. A câmera do diretor é inconfundível e cada um dos quadros é repleto de beleza e contrastes.
A volta também faz referência a Carmen Maura, atriz que foi musa do diretor durante os anos 80, mas que desde Mulheres à beira de um ataque de nervos, de 1989, não aparecia sob as lentes almodovarianas.
Apesar de trabalhar com algumas das mais consagradas "chicas-Almodóvar", caso da própria Maura, de Penélope Cruz, e da veterana Chus Lampreave, o diretor colabora com novas estrelas. Blanca Portillo é Augustina, uma das personagens mais melancólicas criadas por ele. A talentosa Lola Dueñas, já havia feito uma pequena participação em Fale com Ela, mas é no papel de Sole que a atriz se consolida junto do diretor. E Yohana Cobo, de 21 anos, é a mais jovem das atrizes do filme, seu personagem tem 14. Apesar da pouca idade, ela já trabalhou ao lado de grandes diretores como Carlos Saura, que a dirigiu em O Sétimo Dia e agora Pedro.
Almodóvar regressa ao seu povoado na região espanhola de La Mancha, retratando os hábitos das velhas senhoras e a relação direta com a morte. É um filme maternal, mais ainda do que Tudo sobre minha mãe. E é onde o diretor presta homenagens a sua falecida mãe Doña Paquita, conhecida pelas pontas em filmes como Kika e Ata-me.
Diferente do que havia experimentado em suas obras anteriores, aqui ele usa a narrativa tradicional. É uma história com início, meio e fim, e que surpreende a cada quadro. Não há como entrar em detalhes, é preciso vivenciar e se deixar envolver pela ação. É difícil segurar as lágrimas com tamanho lirismo e poesia visual. E que venham muitas obras deste diretor, que mesmo se repetindo inova sempre a cada produção.
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Um comentário:
Não sou muito fã de "Volver", mas você está de parabéns por essa crítica e especialmente pela série de posts sobre o grande diretor! ;-)
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