segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O ANJO EXTERMINADOR


Este foi o último filme da fase mexicana de Luis Buñuel, lançado em 1962, é considerado uma de suas mais complexas obras. O longa conta a história de um grupo de burgueses que se reunem na mansão de um casal para jantar, todos por uma razão desconhecida acabam ficando presos no lugar, aparentemente não existe nada que os impeça de sair, eles apenas não conseguem ir embora.

Em meio ao enclausuramento e devido a falta de recursos e comida, os ricassos que até então mantinham uma postura elegante vão deixando cair suas máscaras e mostrando o seu verdadeiro 'eu'. Junto a O Discreto Charme da Burguesia, seu filme posterior, é a obra do diretor que mais critica a elite, mostra o ser se tornando cada vez mais irracional e agindo com egoísmo e violência.

Aqui a forma narrativa é feita de maneira convencional, diferente de O Cão Andaluz por exemplo, embora em O Anjo também haja elementos do primeiro filme de Buñuel, como uma certa mão sem corpo que perambula pela casa. O aspecto mais inteligente da narrativa é a repetição de fatos e imagens que acontece diversas vezes, no entanto a principal repetição do filme é o momento final, onde os convivas, por mero acaso reproduzem as mesmas posições em que tinham na noite que o enclausuramento se iniciou.

O Anjo Exterminador é também recheado pelas chamadas "obesessões buñuelianas", onde o diretor coloca aqueles seus elementos já tão característicos, a paixão do homem mais velho pela jovem por exemplo, aqui ela fica mais subentendida em uma subtrama, não é tão explícita quanto em Viridiana ou Tristana, mas mesmo assim se faz bastante presente.

Mesmo mostrando a maioria de seres ingratos e que gostam de pisotear a sociedade sem piedade, O Anjo Exterminador tem sua heroína, que é representada pela atriz Silvia Piñal, Leticia a moça virginal e que será a peça chave no desfecho da trama. Com essa personagem Buñuel mais uma vez faz sua crítica ao clero.

Um filme como O Anjo Exterminador não é uma fábula que se conclui com "moral da história", nem um enigma que se permite apenas a uma resposta. É uma articulação precisa entre enredo narrativo e imagens isoladas. Daí a complexidade de sua história, das charadas que nos são impostas, e que na maioria das vezes ficam intactas.

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